América do Sul em duas rodas

Viajando numa moto pelo sul da América Latina
por Ale Filizzola, Breno Dangelo e Rui Pinho
13/11 a 15/12/2022

Decepção e frustração com o desempenho da Royal Enfield Interseptor 650

  • Avaliação geral de satisfação com a Royal Enfield: Nota zero pra moto e marca. Profundamente insatisfeito com a moto e a marca.

  • Objetivo único e exclusivo da compra dessa moto nova: fazer uma viagem pela América do Sul.

  • O objetivo foi cumprido? Não.
  • Quanto do desempenho da Interceptor, não sei bem o que dizer, me pareceu um tanto pesada e desengonçada para o porte dela, mas só dirigi em velocidades em torno dos 80km/h, pois estava amaciando o motor. Ela começou a queimar óleo e ficou sem condição de seguir a viagem antes mesmo dos 2.000km do período de amaciamento.

  • A Royal Enfield não se mostrou solidária ao problema, não prestou nenhuma assistência e se mostrou indiferente com a satisfação do cliente, e não moveu uma palha para encontrar uma solução imediata para o problema. Basicamente disse que azar o meu e que não era da conta dela.

  • Dê ouvidos a razão: desconfie de uma marca que faz a primeira revisão com apenas 500km. Nem eles mesmos confiam no produto que eles entregam.

  • Se eu recomendo a Royal Enfield, tanto a moto quanto a marca? – Definitivamente, não. Melhor procurar uma outra marca que seja mais confortável e preocupada com a satisfação dos seus clientes.

Segue o relato da viagem

Esse blog é para compartilhar os relatos de viagem passando pelas estradas de diversos países do Cone Sul da América Latina. Partindo de Belo Horizonte, toda a certeza que temos no momento, é da viagem pela frente, já que os planos seguem mudando a todo o momento. Então, esse relato vai seguir sendo atualizado e reeditado, sempre que possível, ao longo do caminho. A estimativa é de pouco mais de 10.000km a percorrer em cerca de 30 dias de estrada.

Dia 18

O trajeto original passava por Bonito, no MS, pra dali seguir por Ła Paź, descer pelo Salar até alcançar o oceano Pacífico no Chile. Dali tinha o Atacama e descer pra Argentina, cruzar o Paraguai, voltar pro Brasil por Foz do Iguaçu, atravessar a Serra do Rio do Rastro até o litoral do Atlântico. De lá, passar por Florianópolis, Balneário de Camboriú, Curitiba, contornar São Paulo e retornar a Belo Horizonte, de onde sairíamos. Esse era o mapa planejado que tínhamos:

Mapa original da viagem

Mas aí, as vésperas da partida, irrompeu um conflito na Bolívia e ficou tenso começar a viagem por lá. Então, o mais provável é partirmos no Domingo de manhã (13/11/22) rumo a Argentina e, de lá, só no caminho mesmo pra decidir e continuar seguindo o blog aqui pra saber.

Enquanto isso, uma breve introdução dessa viagem, pra quem está chegando agora

Vamos eu e mais dois amigos em uma Interceptor 650, uma Boneville 850 e uma Ultra Glide 1600. A ideia tomou forma numa conversa de bar ainda no meio do ano. O Breno e o Rui já tinham a intenção e eu só fiz me juntar a trupe. O Breno e o Rui foram os grandes navegadores da viagem.

Eu ia com a moto que tem sido a minha de estimação por mais de uma década, uma Virago 250. Só que há uns dois meses foi pra Brasília nela pra testar e, depois de imprevistos, alguns problemas mecânicos e um tornozelo quebrado, resolvi respeitar a idade da criança e investir numa moto nova pra evitar problemas mecânicos devido ao desgaste pela idade.

Royal Enfield Interceptor 650: bonitinha, mas ordinária. Me deixou na mão logo no começo da viagem.

Após pesquisar bastante, a melhor relação custo x benefício que encontrei numa moto zero km foi na Royal Enfield Interceptor 650. Bem que eu gostaria, mas que fique claro, não tem num patrocínio ou apoio da RF ou outra empresa qualquer nessa viagem). Gostei do test-drive e há muitas opções de acessórios baratos no Mercado Livre, bem mais em conta que os originais. A concessionária levou um mês pra entregar na cor que eu queria e atrasou mais duas semanas pra emplacar, e olha que isso memo tendo pago a moto a vista e o serviço de despachante da concessionária de BH.

De acessórios instalei: medidor de bateria e carregador USB, protetor de motor com pedaleiras, protetor de alforges, peito de aço, bagageiro, bolha, baú e alforges. Como a posição de pilotar é bem diferente das estradeiras que estou acostumado, esperei rodar uns 500km antes de instalar o riser de 3,5cm pra sentir bem a diferença. E olha, fez muita diferença! Não precisou trocar os cabos originais do guidon, apenas ajusta-los, e melhorou bastante a posição de tocada. Também mandei fazer a vitrificação da pintura por precaução, espero que valha a pena.

Até a primeira revisão, aos 500km, a impressão geral da interceptor é boa. Achei uma falha grave ela não marcar a média de consumo no painel. Calculando pela média de abastecimento no tanque x quilometragem percorrida, ela está fazendo 28km/l, considerando que estou pegando super leve com ela até concluir o amaciamento do motor aos 2.000km. A expectativa, de acordo com relatos de outros proprietários, é que ela estabilize em torno dos 24km/l. O marcador da reserva não é confiável. Pra um tanque de 13.7l, o manual diz que ela deveria ter 2.9l de reserva de combustível, portanto, ela deveria acusar no marcador depois de consumidos aproximadamente 10.8l. No entanto, ela está marcando reserva depois de consumidos apenas 8. Relatos dizem que o pescador do tanque não consegue aproveitar cerca de 1.5l, que ficam perdidos abaixo do nível de sucção da gasolina. Bora ver. Fora isso ela tem uma marcha neutra fantasma que, por vezes, entra fora de hora no meio das marchas. Ela também esquenta muito embaixo do banco e a tampa da embreagem, do lado direito, fica praticamente encostada no pé e perna do freio. Dá pra imaginar o forno que deixa impensável dirigir sem bota e uma calça comprida reforçada.

As revisões de 5.000 e 10.000km vão ser feitas durante a viagem. O plano original era realizado-las em La Paz, na Bolívia, e em Florianópolis, de volta ao Brasil. Mas com a mudança de ultima hora no roteiro, isso vai depender do novo caminho que pegarmos. O mais provável é que sigamos direto pra Argentina, então, tudo indica que essa primeira revisão será na concessionária de Salta, a aproximadamente 3.100km de BH.

De Belo Horizonte / Brazil a Salta / Argentina: 3.100km

O que vai na mala (se eu conseguir achar espaço pra tudo)

Dia 01 – 13/11/2022

Ponto de Partida

Belo Horizonte – Cambuí, Minas Gerais / Brasil

Odômetro ao final do dia 430km

Largamos de BH por volta das 10am e pegamos uma estrada tranquila. Como a minha moto ainda está amaciando o motor, nossa velocidade de cruzeiro foi em média 80km/h, e talvez por causa disso, tive a feliz surpresa de ver o consumo melhorar pra quase 32km/l. Um sol de rachar e calor infernal na maior parte do trajeto. Só no final do dia pegamos trecos com chuva leve, não precisou nem parar pra colocar capa impermeável.

logo na primeira parada na 381, saindo de BH, ficou decidido que, ao invés de descer direto pra Argentina, vamos desviar pelo litoral, passando por Balneário, Florianópolis e Serra do rastro.

Chegamos ao cair da noite em Cambuí e nós hospedamos no hotel ZéMaria, onde fomos muito bem recebidos.

Feito o check in, fomos procurar uma churrascaria que o Rui guardava com muita consideração. Após procurar por um tempo, descobrimos, pra pesar do Rui, que ela já não existia há anos. Seguimos o conselho de um local e fomos no rastro de um tal Bar do Tio, que, segundo ele, era o lugar pra “comer uma carne de procedencia”. Sobre e desce morro e esse lugar não chegava. Andamos um monte até encontrar. O lugar é bacana, mas caro pro que oferece. Ainda assim, foi muito bom. Ficamos de olho num trenzinho da alegria que passava a cada meia hora. Seria a salvação pra voltar pro hotel, mas ele encerrou antes de nós. Caminhada de volta, o Rui pisou numa merda de cachorro, e foi lixando o pé no asfalto até chegarmos no hotel. Um latão de saideira na praça, e damos o dia por encerrado.

Breno na garagem preparando pra sair

Dia 02

De Cambuí a Registro: 360km percorridos.

Avaliação do possível trajeto do dia durante o café da manhã, montar a bagagem de volta nas motos e pé na estrada rumo a São Paulo.

Ale relaxando enquanto a chuva cai. Foto feita pelo Rui.

Muita chuva durante toda a manhã. Paramos em Atibaia/SP para um lanche e reavaliação do destino. Tudo indica que pernoitamos em Registro, mas ainda estamos estudando o melhor caminho.

A Interceptor de vez en quando está está fumaçando no escapamento esquerdo. Imagino que ela esteja, provavelmente, queimando algum excesso de óleo. Por segurança, sigo monitorando o nível de oleo do motor, que parece normal.

De lá, fizemos o retorno por Jarinu e viemos até Registro, one pernoitamos no hotel Lito, que parece um pouso conhecido de quem passa por aqui de moto.

Mapa Cambuí – Registro

Na parte da tarde pegamos tempo bom com um sol de rachar. Imagino que, pelo menos, uns 35º.

Após descarregarmos as motos e nós instalarmos, o hotel, viemos pra beira do rio. Quem diria, Registro tem orla e uma área história de docas bem interessante. Mormaço que lembrou o clima de Belém.

Achamos uma cervejaria artesanal, e resenha que segue.

Orla de Registro

Dia 03

Registro – Balneario Camboriú.

Hotel Gênova

O quarto do hotel estava arrumado e com cheiro de limpo quando chegamos. Cinco minutos depois estava com o cheiro de uma jaula de zoológico. O suor em bicas acumulado nas roupas de moto desses últimos dias não está fazendo nada bem ao olfato.

Acordamos cedo, mas demoramos no café e na arrumação das motos. Tentamos instalar uma imitação de Go pró,que teimava em não fixar. Primeiro, descolou do capacete, depois foi um desafio encontrar um lugar pra fixar ela na moto. Uma vez vencida a luta da fixação, foi a vez da bateria da câmera arriar. A carga só está segurando 5 minutos e fim de jogo.

Aí foi a vez de abastecer e calibrar os pneus. Chegando em Registro foi a melhor média da viagem. A Interceptor fez incríveis 34.8km/l. A calibragem deu uma diferença de 8 libras pra menos em cada pneu. E o óleo do motor baixou um tanto, mas ainda na metade do nível do marcador.

O celular do Breno tomou tanto sol na moleira, que começo a falar malaio.

A Bonneville do Rui estava com muita turbulência e instabilidade, foi conferir e a bolha estava torta e o garfo de suspensão na frente com calibragens completamente diferentes em cada canela.

Dia 04

Balneário Camboriú – Florianópolis.

Hotel Kennedy

Interceptor fumando e baixando o óleo foi para a concessionária. O laudo da concessionária me deixou impedido de continuar a viagem, sob pena de perder a garantia.

o pessoal da concessionária da Royal Enfield de Florianópolis me recebeu muito bem, mas após me arrebentar com a recomendação de não retirar a moto da concessionária no relatório, ainda achou que era uma boa lucrar na minha desgraça. Eles me propuseram comprar a minha moto por uns 70% do preço da Fipe, como moto usada e me vender uma zero pelo preço cheio da concessionária.

Fim de jogo para a Interceptor em Florianópolis. Foi pra oficina e, de lá, voltou pra BH de reboque.

Dia 05

Serra do Rio do Rastro

Florianópolis – Bom Jardim da Serra.

Hotel Morada dos Pinheiros em Bom Jardim da Serra

Interceptor foi recolhida pela seguradora na concessionária Royal Enfield de Florianópolis e envida para a concessionária de Belo Horizonte.

Acordamos para o café, e eu em clima de despedida. Ontem o dia foi muito estressante entre o problema da moto, a concessionária e o descaso da Royal Enfield com seus clientes. Ao menos a seguradora funcionou bem. Faço um resumo dos últimos dias aqui, já que esse relato ficou interrompido. Depois volto preenchendo com detalhes os últimos dois dias que passaram.

Já de volta ao quarto, arrumava as malas, e me preparava pra me separar dos meus companheiros e retornar pra BH. Foi quando resolvi tentar um último recurso pra aproveitar, ainda que um pouco, a viagem: alugar uma moto para o final de semana.

Aluguei uma big trail, a Triumph Tiger 900 Rally Pro, com a Continente Locadora no bairro Palhoça, e seguimos caminho rumo a Serra do Rio do Rastro.

Aluguei uma Tiger 900 Rally Pro pra fazer a Serra do Rio do Rastro e não perder a viagem por causa da Royal Enfield.

Tivemos muita sorte. Pegamos a estrada vazia e tempo limpo. Subimos a Serra com tempo limpo, sol claro e sem qualquer vestigio de chuva ou neblina. A temperatura foi despencando a medida que subíamos.

A subida da serra deu pouco mais de 20minutos de uma infinidade de curvas sinuosas ladeadas por despenhadeiros. Chegamos ao mirante no topo da Serra e a vista de lá é linda.

Um guaxinim tentou roubar a jaqueta do Rui, provavelmente, guiado pelo cheiro, a confundindo por uma carcaça de bicho morto ou parmesão vencido há muito.

A noite, na pousada, conhecemos uma turma de Curitiba que estava lá para participar de uma corrida de carros envenenados, que subiría a Serra do Rio do Rastro no domingo de manhã. Nos juntamos a eles para tomar uma num boteco ali perto. A temperatura continuou desabando noite a dentro e chegou aos 10 graus.

Dia 06 – Sexta-feira, 18/11/22

Parna Morro da Igreja

Serra do Corvo Branco.

Pousada Recanto da Serra em Ubirici.

Dia 07 – Sábado 19/11/22

Ubirici – Torres

Saimos da Serra em direção ao litoral. A descida da Serra do Rio do Rastro foi tão tranquila quanto a subida e com direto a muito sol.

Uma vez na BR101, é um estradão só e uma infinidade de radares. Passei o tempo todo tentando ligar o piloto automático da Tiger, que teimou em não funcionar.

chegamos a Torres no final do dia e orarmos num restaurante a beira mar pra comer uma isca de peixe e pesquisar as opções de hospedagem. Por alguma razão que me escapa a compreensão, o Rui insistiu em tomar uma Polar.

Ficamos no hotel Furninhas, que no Booking estava anunciando o quarto pra três por R$290. Na recepção queriam cobrar R325, mas cederam nos dizendo que o quarto anunciando era outro. E lá fomos nós mais uma vez ficar num quarto nos fundos. Na hora de pagar a diária nós aplicaram o golpe da garagem, dizendo que tinha uma taxa de R$25 a parte para estacionar. Como já estávamos instados e cansados de viagem, resolvemos não discutir.

Saímos para uma volta pelas redondezas. Encontramos uma feira de rua com uma banda se apresentando, que não nos pareceu muito promissora. Terminamos por ficar num bar/cervejaria ao lado do hotel, que tinha um ótimo atendimento e música ao vivo que surpreendeu. Ficamos até fechar o bar.

Chegando ao Hotel, Breno e Rui foram dormir quase que instantaneamente e eu ainda fui lavar roupa no chuveiro, que a situação estava crítica.

Dia 08 – Domingo 20/11/22

Torres – Porto Alegre

Dando sequência, eu (Breno) e o Rui continuaremos com os relatos, mas já adianto que os dias estão corridos…

Antes da separação do trio, fomos visitar as tais torres (foto) que dão nome a cidade, um lugar bonito e o clima no céu estava ótimo, mas na terra… meio triste.

Saímos de Torres com tempo bom e um certo cuidado com a minha moto que estava com problema no arrefecimento. Tudo indicava que a bomba d’água estava com problemas e Rui também precisava comprar uma jaqueta nova, pois a dele estava se desintegrando nos últimos dias. Ficaríamos um dia em Porto Alegre para resolver esses probleminhas antes de seguir.

A viagem foi tranquila, algumas paradas apenas por precaução. Após procurar um pouco ficamos no hotel Açores (melhor café da manhã até o momento).

À noite saímos para comer por perto e acabamos no Pastel com Borda, uma bela surpresa. São 4 páginas no cardápio de pastéis, cerveja gelada, um local bacana e preço em conta.

Dia 09 – Segunda 21/11/22

Já havíamos pedido indicação de oficina e loja pela internet, então no café da manhã já entrei em contato com a oficina Pavilhão e Rui já tinha apontado no GPS a loja Spinelli.

Aproveitando que passaríamos o dia, deixamos as roupas na lavanderia e então parti para a oficina enquanto Rui iria buscar uma jaqueta e mala nova.

A Pavilhão é uma oficina gigantesca, lotada de motos, e claro, muita demanda para os mecânicos. Mas assim que cheguei um dos mecânicos (João se lembro bem) já tratou imediatamente de diagnosticar e confirmar o problema da bomba. Conseguiriam um mecânico (Júlio) após o almoço caso encontrássemos uma bomba.

Então começaram a ligar para as autopeças parceiras, mas sem muito sucesso… Resolvi então sair pela avenida para procurar a bendita bomba e encontrei na Safra Diesel, uma autopeças especializada em caminhões e tratores.

Após tudo acertado, fui almoçar. A instalação demorou a tarde toda (é uma adaptação), mas no final deu tudo certo. Rui comprou suas coisas e estava tudo pronto para continuar a viagem. Um alívio…

Para comemorar o dia, fomos comer num lugar chamado Parrilla Del Sur, um dos poucos abertos em uma noite de 2a feira.

A carne estava maravilhosa, a cerveja Uruguaia estava gelada e a sensação era de dever cumprido. Sentimos falta do Alessandro, claro, acho que a ficha demorou um pouco pra cair…

Dia 10 – Terça 22/11/22

Porto Alegre – Uruguaiana

Por Breno e Rui

Tentamos sair bem cedo, seriam mais de 600km no dia. Na saída da cidade a ponte móvel subia e descia sem muita explicação.

Ficamos alí parados feito bobos por uns 10min, já que não havia nenhum barco passando.

Saindo da cidade, pegamos uma estrada bem monótona e um pouco de chuva forte, mas bem menos do que esperávamos pelas previsões do app Windy.

Almoçamos em um restaurante simples e seguimos pelas loongas retas. O asfalto até que estava melhor do que eu esperava, ao cair da noite chegamos em Uruguaiana.

O primeiro hotel que olhamos estava cheio, o booking também dava um alerta de grande procura. Logo que encontramos um com bom preço já ficamos.

Fomos tomar um cerveja em um tal Boteco Beer. Lugar bacaninha mas a cerveja e comida deixaram a desejar…

Dia 11 – Quarta 23/11/22

Por Breno e Rui

Uruguaiana – Concórdia

Dia de fronteira! As tarefas eram fazer a carta verde para as motos (um seguro obrigatório), retirar pesos através da Western Union, chip de celular e seguir em direção a Zárate.

Agilizamos a carta verde na corretora Boger, conseguimos xerox da identidade para sacar dinheiro na WU e fomos direto para a aduana.

A ponte que liga os países está em reforma, no esquema pare/siga a cada 30min. Ficamos alí no sol um bom tempo conversando até liberarem o tráfego.

A aduana foi bem tranquila, tudo rápido e fácil (ficamos até desconfiados). Mas ao chegar na WU ouvimos um “impossível” e na loja da Claro também não quiseram fazer o chip para estrangeiros.

Trocamos um pouco de dinheiro no câmbio de rua (50:1) para ter alguma coisa e seguimos a orientação do atendente da WU de seguir para a cidade de Cajahí, pois na fronteira não seria possível.

Em Cajahí outra decepção, nem conseguimos almoçar… toda a cidade estava fechada. De repente Zárate ficou muito distante…

No caminho paramos em um posto para comer, estávamos famintos e não havia restaurante aberto em Cajahí. Para economizar os pesos, usamos o cartão de crédito para pagar dois hambúrgueres estilo “hot pocket”, que com o câmbio oficial+iof etc saíram por R$100 (27:1).

Com a internet do posto resolvemos ir para a cidade de Concórdia, pois havia um Carrefour, que é um dos melhores lugares para sacar pela WU.

Mais uma vez Zárate ficava mais longe… já houve WU naquele Carrefour, mas não atualizaram a informação. Olhamos uma rua que aparentemente tinha pontos WU e seguimos.

Procura daqui e pergunta dalí, encontramos uma WU para sacar o dinheiro (61:1). Finalmente tínhamos dinheiro “de verdade” e fomos para a praça, comer uma enorme e merecida porção com peixe, camarão, lula e etc…

Ficamos em um hotel Casino com um quarto bem mais ou menos, mas o café da manhã compensou.

Dia 12 – Quinta 24/11/22

Por Breno e Rui

Concórdia – Las Flores

Acordamos cedo e fomos resolver a última pendência em uma loja da Claro perto do hotel.

Demorou um pouco mas deu tudo certo e logo estávamos na estrada com o ambicioso objetivo de chegar até a cidade de Azul, onde há um famoso ponto de apoio a viajantes.

Seguimos pela RN14 determinados a cumprir os 700km, mas fomos pouco a pouco sendo derrotados por um cruel inimigo… O calor! Contornando a região de Buenos Aires (R6) pegamos um trecho lento e engarrafado onde a moto indicava temperatura do ar de 40.5°C, mais o sol rachando na cabeça, comecei até a passar mal, paramos várias vezes. Nas paradas Rui tentava regular a sua suspensão, remanejar a bagagem, calibrar o pneu e apesar das 87 regulagens diferentes a moto continuava com uma instabilidade estranha por volta dos 120km/h.

Quando caiu a noite resolvemos ficar na próxima cidade, Las Flores. Não ficamos longe de Azul, mas preferimos não rodar à noite por segurança.

Las Flores é muito pequena e ficamos em um hotel (muito) simples ao lado dos trilhos do trem, tentamos várias outras opções no Google Maps (vários nem existiam mais) e só perdemos tempo. Apesar disso, até que dormimos bem.

Dia 13 – Sexta

Dia 14 – Sábado

Dia 15 – Domingo, 27/11/2022

A essa altura do campeonato, o Rui e o Breno já devem estar em Bariloche, e eu, Alessandro, volto pra narrativa após uma semana ausente da viagem. Digo, ausente de corpo, pois não parei de pensar nela um só minuto. Amanhã eu retomo a viagem, partindo de BH rumo a Foz do Iguaçu, pra, de lá, me reunir ao grupo onde eles estiverem.

Cheguei tarde da noite em BH na última segunda. Pra completar, o taxi que deveria estar me esperando no aeroporto, não apareceu. Depois de muito esperar, descobri que a seguradora tinha por erro agendado o traslado para o dia seguinte.

Logo na Terça de manhã, tão logo acordei, levei a Virago, minha velha companheira de estrada pra uma revisão completa. Tudo estando certo, ela seria o meu plano B pra retomar a viagem.

Na concessionária da Royal Enfield, que já tinha recebido a Interceptor na Sexta anterior, correu como o esperado e não concertaram a moto. Levaram uma semana de diagnósticos só pra concluir que ela estava queimando óleo e que a garantia teria que ser acionada para abrir o motor e trocar tudo. Ou seja, sabe-se lá quando vou receber esse elefante branco de volta.

Enquanto a semana passava, eu corria contra o relógio pra por a virago em condições de enfrentar o estradão. Levei as rodas para alinhar e apertar os raios, troquei o pneu traseiro, concertei a seta traseira trocada, entre outras coisa. Também tentei fazer o seguro pra ela, que ficou pendente apenas por uma vistoria agendada para o Sábado. No entanto, a seguradora novamente se atrapalhou nas datas e marcou a vistoria da moto para amanhã. Fiquei o Sábado inteiro esperando atoa. E, amanhã quando eles resolverem aparecer, pretendo já estar longe na estrada.

Viraguinho 250/2001, minha moto de estimação e companheira de fé de tantas estradas. Retomo a viagem com ela.
Plano de viagem para os próximos 3 ou 4 dias. Saindo de BH/MG, 1.500km rumo a Foz do Iguaçu/PR.

Dia 16 – Segunda 28/11/22

BH-Batatais, 500km

Pernoite: Hotel Candeias

O dia começou cedo e assim que montei os alforges na moto, peguei a estrada novamente.

O objetivo destes primeiros dias é ir direto para Foz do Iguaçu, e de lá decidir o que fazer. Pra tanto, decidi evitar a rota principal pela Fernão Dias. Escolhi fazer o caminho por uma rota secundária pelo interior e através das montanhas, passando também pela represa de Furnas.

Ponte sobre um dos braços da Represa de Furnas, passando por Capitólio

A estrada foi mais lenta, como o esperado de uma rota alternativa que passa por dentro de diversas cidades. No entanto, fiquei decepcionado com as paisagens. Esperava mais atrações pitorescas, o que não aconteceu. Como o planejamento de estradas e turismo é ruim. Dá pra acreditar que não tem nem um único mirante pra represa de Furnas? A estrada passa na frente da barragem e os vertedouros ficam escondidos por trás dos taludes à beira da rodovia.

o dia começou com tempo bom. Quente, mas parcialmente nublado, que é ótimo pra andar de moto. Em compensação, depois do meio-dia o tempo virou e peguei chuva direto até chegar em Batatais, onde vou pernoitar.

Passando por Franca, no fim da tarde, peguei uma chuva torrencial e tive que parar em um posto e esperar ela passar. Foi quase uma hora de dilúvio ininterrupto. De lá para os pouco mais de 40km finais ao entardecer, foram chuva e neblina.

Chuva torrencial no fim do dia, passando por Franca. Tive que ficar encostado quase uma hora esperando ela amenizar.

o GPS tirou o dia pra me pregar peças. Primeiro foi na saída de BH, quando me fez pegar uns caminhos muito loucos por dentro de bairros. Depois, saindo de Passos, confundi as bolas com os nomes das cidades e, ao invés de marcar Ribeirão Preto, marquei, sem me atentar, o primeiro nome que apareceu, São José do Rio Preto. Foram alguns km de desvio, mas percebi a tempo de corrigir a rota, sem grandes perdas.

Depois de me instalar no hotel, atravessei a rua para comer um sanduíche no trailer logo em frente.

Enquanto a chuva teimava em continuar caindo, comecei uma conversa com a senhora já de certa idade que preparava o lanche. Começamos falando de racismo e a conversa fluiu fácil. Descobri que, além da barraca de lanches onde ela trabalha há 28 anos, ela também é super atuante na comunidade local e lidera uma ONG. Indo além, ela, orgulhosa, também me contou do premiado filho escritor, Valdeci Santana, e que ele já tem o terceiro livro recentemente publicado, O Rei da Grécia, o qual ela estava lendo por detrás do balcão. Além do sucesso de vendas, ele também tem os livros traduzidos em diversos idiomas, que, aliás, vendem bem mais lá fora, que no Brasil.

Dia 17

Batatais/SP – Maringá/PR: 600km.

“Vai. E se der medo? Vai com medo mesmo” – E assim foi a minha saída de Belo Horizonte e tem sido até agora. Felizmente, mesmo tudo dando errado, tudo tem dado certo.

Hotel Gaph, Maringá.

As incertezas são muitas. Acabei comprando uma moto nova, por receio da idade da outra, só pra não ter problemas mecânicos, e a maldita da Royal Enfield Interseptor quase bate o motor por problemas de fabricação logo no começo da viagem. A Virago, que tinha sido preterida devido ao tempo de estrada, de reserva, virou titular. E aqui estou eu, felizão com ela, no segundo dia de retomada viagem, e mais de 1.000km rodados desde a saída. Vamo que vamo!

Consegui fazer a vistoria pro seguro em trânsito, passando por Marília. Saí de BH “p” da vida, pois a corretora tinha marcado a vistoria pra validar a apólice no dia errado, e isso atrasaria tudo ainda mais. Então, saí sem ela mesmo, mas as coisas foram se resolvendo pelo caminho.

Metade do meu fumo de rolo mofou, mas percebi a tempo e salvou-se a outra metade. Ainda assim, também consegui comprar uns maços de “paieiro” pra garantir.

No hotel, a pegadinha do malandro, tem uma jacuzzi ( que pareceu um final do dia perfeito) mas ela só funciona durante o dia com energia solar.

Estou com uma marca de relógio ao contrário. Explico, sabe aquela marca de sol branca que o relógio deixa no pulso pelo uso contínuo? Pois é, tem exatamente aquele espaço descoberto entre a luva e a jaqueta, onde o sol castiga sem dó. No começo ficou rosa, depois vermelho. Daí veio um bronzeado ainda lá atrás, nós primeiros dias da viagem original. Agora toda a melanina escondida na minha pele aflorou e o meu lado Black veio a tona, ao menos naquela marca de relógio invertida. Saudades dos meus 20 anos, quando morava em Caraíva, e esse bronze era por igual.

Arrumei a tralha e saí cedo de Batatais. O clima cooperou hoje. Foi um dia quente e com apenas duas pancadas de chuva, uma no início e outra no fim da tarde. Foi tão rápido e inesperado que não deu nem tempo de encostar pra colocar a capa de chuva. Fiquei ensopado na moto, e, na moto mesmo sequei na sequência.

Curioso como a paisagem foi mudando ao longo do caminho. A estrada sinuosa de Minas, serpenteando tímidamente pelas montanhas, aos poucos foi se aplainando e ‘enretando’. O horizonte foi ficando distante e canaviais, depois sucedidos por soja, foram tomando conta da paisagem. Depois de Marília/SP, foi quase que uma descida contínua até o Paraná. A estrada também melhorou, os pedágios caríssimos, a média de velocidade também aumentou, mas o trajeto foi ficando mais monótono em contraste com as curvas mineiras.

Dia 18

Por Ale Filizzola

Maringá – Foz do Iguaçu

Hotel Jung

Mais trânsito na estrada e muitas paradas devido a obras. Deu a louça no GPS passando por Campo Mourão. Parada a 40km de Foz pra refrescar por causa do calor de mais de 40 graus. Hotel tipo pensão, mas barato.

Marco das 3 Fronteiras com show de danças típicas no final do dia.

Dia 19

Por Ale Filizzola

Dia livre em Foz do Iguaçu pra conhecer as Cataratas.

Cataratas do Iguaçu.

Carta verde e xerox fura olho.

Fui dormir bem mais cedo, exausto devido ao calor do dia.

Dia 20

Hotel Jung.

Cambio de Real por Peso Argentino em Foz: câmbio 1/50.

Fronteira tranquila, fiscal de imigração gente boa, só pediu pra ver identidade. Celular superaqueceu e desligou por causa do calor, enquanto esperava parado na fila debaixo do sol rachando. Passei pro lado Argentino as 10:20am.

Estrada secundária tranquila e com pouco movimento. Nada de interessante peArgentinolo caminho. Postos de abastecimento bem distantes entre sí. Só começaram a aparecer com maior frequência depois dos 150km rodados.

Cheguei em Posadas por volta das 3:30pm. Fui ao shopping sacar dinheiro na WU seguindo a dica do Rui e do Breno. Câmbio bem melhor, de 1/60.

Gasolina em falta nos postos. Só consegui abastecer no terceiro posto que passei, mesmo assim, fila de quase uma hora dando a volta no quarteirão. Paraguaio muito conversado parou ao meu lado furando a fila. Começou com uma conversa esquisita sobre fumo, drogas e ter largado tudo pela religião, depois de ter cumprido pena por assalto. Disse também que atravessava a fronteira pra abastecer na Argentina, pois era mais econômico do lado de cá.

Já escurecendo e ameaçando cair uma tempestade, saí do posto e fui procurar onde ficar. Na Pousada Maryland já não tinha vaga e me indicaram um hotel mais adiante. Cheguei no hotel com a chuva caindo, e acabei ficando nele sem questionar, mesmo faltando energia em metade do prédio e ser meio moquifo. Mas, no fim, a noite foi tranquila.

Às 8pm fui na lanchonete ao lado comer um sanduíche de milanesa e uma empanada. Quando o sanduíche chegou, quase caí pra trás. Apesar de barato, o negócio era gigante e dava pra umas 3 pessoas fácil.

Dia 21

Por Ale Filizzola

Posadas – Corrientes

Hotel Orly, Corrientes

Apesar de ter rodado pouco, o dia foi com emoção.

Saí por volta das 9h de Posadas. Cerca de uns 100km depois senti uma diferença no motor e no som e parei para olhar. A estrada não tem acostamento, e é feta sobre uma plataforma que se eleva da planície. Então, desci por um acesso de fazenda que apareceu.

Logo vi que não foi uma boa ideia. A terra batida virou uma lama vermelha argilosa que grudou nos pneus de asfalto e a moto começou a patinar.

Parei e pude ver que um dos parafusos que prende o escapamento ao cilindro dianteiro havia se quebrado. Sem nada que eu pudesse fazer no momento, retomei a estrada. Se a moto patinou pra entrar, imagina só pra sair. Fui meio que empurrando e controlando na embreagem, com a roda traseira querendo sair de lado, totalmente colada no barro argiloso acesso acima.

Quando cheguei ao asfalto, subiu aquele cheiro de embreagem queimada que me deu até um calafrio, lembrando da última vez que fui pra Brasília recentemente e uma embreagem nova desmanchou.

Alguns quilômetros afrente encontrei um posto de pedágio e parei pra pedir ajuda. O plano era conseguir um arame pra quebrar o galho e amarrar o escapamento provisoriamente. O pessoal foi muito solícito e me conseguiu um arame, mas foram além e fizeram ainda melhor, me conseguiram a referência de um mecânico, Moto Mondo, na cidade próxima, Ituzaingó.  Fui direto pra lá. Dei muitai sorte, que apesar de ser sábado, a

Dei muita sorte. Apesar de ser Sábado, cheguei lá ainda no final da manhã e a oficina estava aberta. Me receberam super bem.

Para fazer o reparo do parafuso quebrado, teria que ficar lá até segunda para levar a um torneio mecânico sacar fora o pedaço de parafuso que ficou preso no motor. Solução: amarrar tudo com arame e torcer pra aguentar até o resto da viagem. “És un provisorio permanente”, disse o mecânico.

Aproveitei a mão na massa pra também trocar a vedação do filtro de óleo, que estava vazando muito, e completar o nível de óleo. 

Reparo feito, abasteci no posto na rodovia, almocei a outra metade do sanduíche de milanesa de ontem, e segui viagem. Aquela

A estrada é monótona. São grandes retas, quase nenhum momento trânsito e a paisagem muda pouco. Sol a pino e ao longe vi se aproximando uma nuvem de chuva. Um grupo de quatro casais em big trails passou por mim e parou logo adiante pra colocar as capas de chuva. 

Não botei fé e segui no meu caminho. Logo adiante entrei na chuva, que parecia fraca. Imaginei que seria apenas uma nuvem isolada e que passaria por ela sem me molhar muito. Como estava enganado.

O miolo da nuvem era uma tempestade com ventos fortes. Já todo molhado e sem ter onde encostar, acelerei e segui adiante. Demorou mais do que eu esperava, mas finalmente atravessei a nuvem. Todo encharcado, só me restava continuar até secar em cima da própria moto.

Aquela última parada, mais uma vez, se mostrou um golpe de sorte. Saindo dali, foram 170km sem postos de abastecimento. Teria ficado sem gasolina no meio do nada na estrada vazia. Cheguei ao próximo posto restando apenas um litro de combustível no tanque.

Cheguei em Corrientes no meio do jogo da Argentina pela copa. A cidade estava deserta e o comércio praticamente todo fechado. Só se ouviam os gritos de torcida de dentro das casas.

Acho que a Argentina toda veio pra cá nesse fim de semana. Passei por uns 10 hotéis de todos os tipos e preços, mas estava tudo lotado. O dia já estava escurecendo e eu ainda ali procurando vaga  Já estava determinado a desistir e seguir pra próxima cidade pra procurar onde passar a noite depois de uma última tentativa. Foi quando finalmente achei um quarto disponível no hotel Orly. Ufa! Apesar de três vezes mais caro do que eu vinha pagando em hospedagem, nem questionei e imediatamente fechei com a acomodação.

Fazendo o check-in, o recepcionista me disse que na cobertura tinha uma “pila”. Instalado no quarto, subi pra piscina no terraço e tomei uma cerveja curtindo o por do sol, feliz de ter chegado até ali.

A noite fui jantar umas empanadas na esquina e boa. Declaro esse dia encerrado.

Dia 22 – Domingo 04/12/23

Por Ale Filizzola

Corrientes – Gobernador Crespo, 410km

Acordei cedo e sem muita pressa. Fui para a cobertura do hotel onde é servido o “desayuno”. Tomei um café (ruim) enquanto mordiscava uma “media luna” na varanda ao lado da piscina. Aproveitei pra ficar um tempo e atualizar o relato da viagem.

Saí de Corrientes por volta das 11h e o calor já estava de matar.

Atravessei pra Resistência em um trânsito confuso e o GPS teimava em me direcionar para estradas secundárias paralelas a rodovia. Foi quando vi uma placa de proibido o acesso de motos e bicicletas em uma das saídas de volta a estrada principal. Lembrei do Breno me alertando que lá haviam proibições de circulação assim, mas ainda não tinha visto nenhuma. Continuei seguindo as orientações do GPS depois disso, sem reclamar.

Nós vastos campos e veredas às margens do caminho, aos poucos começaram a aparecer algumas criações, predominantemente cavalos, algumas cabeças de cado e imensas plantações de girassóis. Passei por uma revoada de andorinhas. Nós primeiros quilômetros depois de ter cruzado a fronteira, também já havia passado por uma de borboletas amarelas.

O dia passou lento e tranquilo. Com a escassez de postos e o sol inclemente, comecei a fazer paradas pra abastecimento mais frequentes. O que é bom para aproveitar e tomar algo para refrescar e descansar um pouco. O calor e a monotonia são extenuantes. 

Nessas ocasiões aproveito pra tentar comprar um galão de 5l pra carregar gasolina reserva pro caso de uma eventualidade. É curioso que nenhum dos postos tem o recipiente disponível e, ainda assim, os frentistas se recusam a encher qualquer outro vasilhame, que não seja o homologado.

Também passei por uns 3 postos que estavam fechados, talvez por ser tarde de Domingo, talvez por ser hora da “siesta”.

Cheguei no fim da tarde ao hotel El Norteño, em Gobernador Crespo, como planejado. Depois da experiência de ontem com hotéis caros e lotados, preferi parar antes de chegar Santa Fé.

Fui muito bem recebido no hotel, que fica a beira da estrada e também tem lanchonete e restaurante anexos. 

Hoje fico por aqui. O plano e dormir cedo e sair logo de manhã para Córdoba, e chegar lá ainda com bastante luz do dia para turistas um pouco. Dizem que a cidade é bem pitoresca.

Dia 23 – Segunda

Dia 23 – Segunda – Rencontro 

Saí cedo, por volta das 9am, já prevendo um dia mais longo na estrada. 

Logo de início, parei pra completar o tanque. O primeiro posto estava fechado. O segundo, lotado com grandes filas. O terceiro estava vazio, apenas com um senhor terminando de abastecer um Corcel branco caindo aos pedaços. O tanque do carro era um galão de plástico no porta-malas ligado a uma mangueira de alimentação.

Puxei logo conversa com o frentista e criei confiança. Quando ele completou o tanque da moto, saquei logo do alforge uma garrafa vazia de Coca-Cola 1,5l e pedi logo pra encher e dando: está é a reserva de emergência. Ele riu e encheu sem questionar. Uhuuuuuu, finalmente consegui um litro a mais pra me tirar de um eventual aperto. Ontem a noite, quando pedi no hotel a maior garrafa de refrigerante que eles tinham, o atendente me olhou com aquela cara de ” não acredito que depois de beber e comer um sanduíche, ele vai tomar essa pet sozinho”. Mal sabia ele que o que eu queria era a garrafa.

Na estrada, fui parado pela primeira vez, mas o Guada só me perguntou pra onde ia, olhou a minha placa e me mandou seguir. As blitz são uma constante por toda a Argentina. A cada 50 ou 100km tem uma barreira policial.

Chegando em Cordoba, foi também o primeiro pedágio que cobrava de moto. Há pedágios por todas as estradas que passei, embora não tão frequentes como no Brasil, e todos até aqui tinham passagem livre pra moto.

Encurtei ainda mais os intervalos entre as  paradas. Hoje vim parando a cada 80km. O calor tá pegando pesado. Sol de lascar o dia todo, nem uma única nuvem no céu e mais de 40 graus. Tá osso.

Há uma rota principal em ótimas condições e trânsito livre,quase sempre com pista dupla. No entanto, ela é extremamente monótona. Passa cortando uma planície interminável e vazia pelo meio do nada. Não passa por cidades e, mesmo os postos de abastecimento são quase inexistentes. Isso somado ao sol na moleira não vai bem. Fui intercalando trechos nela com rotas secundárias cortando os lugarejos que o GPS identificou.

Cheguei a Córdoba no fim do dia. Confesso que não gostei. Esperava um centro histórico mais preservado e pitoresco, mas acabou me parecendo apenas o centro de uma cidade grande qualquer.

Já estava na recepção de um hostel próximo a praça de San Martín, quando o Rui ligou. Disse que estavam numa serra  a uns 180km de Córdoba e propôs nós encontrarmos em outra cidade pelo caminho. Topei na hora e ele me enviou a localização de Villa de Villa Carlos Paz. Rumei imediatamente pra lá.

Cheguei antes deles e encontrei um hotel para passarmos a noite, o Hotel Villa del Jardín, que além de garagem e bom preço, também tem um restaurante ao lado. Tão logo terminei o check-in, me instalei em uma mesa pra rua tomando uma pra refrescar o calor 

Rui e Breno chegaram por volta das 10 e seguimos comemorando o reencontro até mais tarde.

Dia 24 – Terça

Acordamos mais tarde e tentamos sacar dinheiro do Western Union. No correio, só faziam valores menores e as outras casas de cambio estavam todas fechadas para a siesta.

Seguindo uma recomendação de roteiro pela Serra feito pelo dono da pousada, caímos numa furada. O tal percurso imperdível, segundo ele, cortava uns oitenta quilômetros de trânsito por entre vilas, com alguns pontos um pouco mais interessantes, ainda assim, não o suficiente pra justificar a empreitada.

Paramos pra comer numa lanchonete da beira da estrada e ainda tivemos que aguardar uns vinte minutos até ele abrir as 4pm, depois da siesta. Quando abriu, só tinha salame com queijo e pão, junto com um refrigerante local, Pretty, que até que era bom. O dono ficou empolgado contando das aventuras dele pelo Brasil e de como se deu bem com três mulheres durante os dias de uma viagem de barco pelo rio Amazonas entre Belém e Manaus. “Argentino peligroso” – ele parafraseava as supostas palavras do capitão do navio.

Dia 25 – Quarta

Conseguimos sacar dinheiro perto do hotel, num lugar que o Rui descobriu. Depois saí um pouco na frente pra encontrar uma oficina pra trocar a luz de freio que parecia queimada.

Com muito custo encontrei uma oficina. Já era quase 1pm e o mecânico logo disse que já ia fechar para a siesta e só voltava às 5pm. Insisti que era coisa simples e que precisava voltar para a estrada. Ele se convenceu e resolveu ajudar.

Acabou que a lâmpada estava boa e era apenas um mal contato na conexão do fio. Ainda assim, aproveitei pra já colocar uma lâmpada nova. Breno e Rui chegaram e antes de voltarmos a rota, também apertei a corrente.

Pegamos o caminho tarde, já eram umas duas da tarde. Pegamos uma rota alternativa pela serra, passando pela represa de Los Molinos. Foi bem legal. 

O dia estava nublado e o clima de montanha um pouco mais fresco que na baixada. O que não impediu a temperatura de estar acima dos quarenta graus.

Paramos pra almoçar na beira do lago de Los Molinos. Comemos um perrejey, que não emocionou muito, mas a vista era legal e o vento na varanda estava divino. 

Depois das 4pm o movimento na estrada surgiu do nada.

O calor estava tanto que o vento, ao invés de refrescar, esquentava como se fosse um jato de secador de cabelo. O Breno comparou bem ao dizer que “era como estar pilotando uma Air fryer”. 

Chegamos no começo da noite em Arroyito, onde nós hospedamos no Hotel Americano. O Breno novamente saiu com um comentário preciso: “o que mais falta pra essa temperatura baixar? – Já escurecei, coviscou, está ventando e não sai dos 40!”.

Día 25

Arroyito – San Salvador

Hotel 3 de Febrero

Ontem as tomadas no quarto do hotel, ou não estavam funcionando, ou não seguravam o adaptador. Fiz um cato na fiação da lâmpada de cabeceira e funcionou muito bem.

O dia foi ameno, dia permaneceu parcialmente nublado e com temperatura um pouco acima dos trinta, que já foi bem melhor. Ainda assim, o Breno ainda estava sofrendo um pouco da insolação dos días anteriores.

Decidimos seguir pra Concórdia, depois de passar por fora de Santa Fé. O fim de tarde foi gostoso e surgiu uma lua imensa no horizonte a nossa frente.

Ao sair de um trevo confuso já a noite, o Rui ultrapassou um caminhão. Eu um pouco mais atrás, abri pra passar também. Foi a conta de ver o Rui passar e, de repente, vi um barril fumegante de poeira vir em pé na minha direção. Foi a conta de abortar, numa guinada voltar pra trás do caminhão e ver aquele tonel passar. Foi bizarro. Um carro havia dado de frente com ele na contramão e ele foi arremessado, de pé, arrastando pelo asfalto. Felizmente, nenhum de nós se machucou.

Como já estava ficando tarde, resolvemos parar em San Salvador, um pouco antes de Concórdia para passar a noite.

Tomei uma pregada de um bicho assassino, que explodiu como um tiro de chumbinho na parte de dentro do meu cotovelo esquerdo. O ferrão era tão bruto que atravessou a cordura e ficou fincado no meu braço como o ferrão de uma abelha. A dor foi surreal e foi se espalhando pelo braço. Não assava por nada e encostei pra ver. Não sobrou nada do bicho além daquele ferrão. Passei o resto do dia com o braço meio adormecido e queimando.

26 dia – Sexta, 09/12/22

San Salvador – Santo Tomé/ AR

Hotel Las Cabañas 

Breno, tipo o tarado do sobretudo, fazendo strip tease abrindo a jaqueta pros veículos que vinham na direção contrária.

Jogo da Argentina contra a Holanda no final da tarde. Brasil já havia sido eliminado mais cedo. A estrada estava quase que deserta durante o jogo. Todo o movimento das rodovias havia se deslocado para as TVs dos postos de gasolina e afins. O Jogo terminou já perto do por do sol e foi bonito de ver os Argentinos todos buzinando, piscando faróis e correndo pela beira da pista pra comemorar.

Numa parada pra abastecer, conhecemos um caminhoneiro brasileiro que já estava há 90 dias retido no país aguardando a liberação dos seus documentos. Passando pela barreira de Bahía Blanca, ele deu o azar de encontrarem uma borboletinha em meio a carga de alho que ele estava trazendo e a coisa complicou com a barreira sanitária.

Nossa última noite na Argentina, ficamos num hotel de beira de estrada próximo a cidade. O Rui disse que o seu “instinto” dizia que o lugar seria bacana. 

Jantamos no restaurante do próprio hotel, que até que era bem disputado. O povo todo mais arrumado e nós lá de camiseta, bermuda e chinelo. Só largamos as coisas no quarto e fomos direto tomar uma. Saí direto com a camiseta preta da viagem mesmo. Já no restaurante, fui ao banheiro e logo vi no espelho as listras brancas do sal que secou do suor na camiseta. Já era tarde e eu estava com sede. Vai salgado mesmo.

Comemos um Sorrentino de Surubim com molho misto e um Bife de Quadril acebolado, que estavam muito bons.

27 dia – Sábado, 10/12/22

Santo Tomé – Puerto Iguazú

Hotel Arasari

Encontramos com um grande número de Harleyes voltando do Atacama. Uns 10 da terceira idade. Logo que entraram na conveniência do posto já foram logo tratando de identificar o Breno. Disseram que era sempre uma alegria quando cruzavam com outra Harley, mas que, infelizmente não viam muitas nessa rota. Disse que se viam muitas big trails. Ele retrucou de pronto: “tudo coxinha”. Pensei comigo, é, tudo coxinha, mas rodando mais que os harleiros.

Último dia de Argentina que acabou se estendendo por mais duas noites. Resolvemos ficar um dia livre em Puerto Iguazú.

Com essa umidade e temperatura, o clima de Belém parece brincadeira de criança perto disso daqui.

Nós hospedamos e fomos tomar uma na cervejaria da Patagônia. Lugar bacana, mas ainda mais quente do que na rua. Conseguimos uma mesa ao lado da parrilla.

Dia 28 – Domingo 11 de Dezembro

Dia de folga e acordamos muito tarde. Saímos do hotel já no começo da tarde e fomos direto pra conhecer as Cataratas do lado Argentino. Tão caro quanto do lado Brasileiro, mas achei ainda mais interessante. Deixamos pra almoçar lá e foi outra facada.

A trilha do lado Argentino passa por cima das quedas que vemos do lado do Brasil. 

Caiu uma tempestade no fim do dia que inviabilizou de conhecer as outras trilhas, mas só a de cima das cachoeiras já valeu a pena. 

Ficamos lá um tempo aguardando a chuva amenizar um pouco e pegamos as motos pra voltar pro hotel antes de escurecer.

O dia foi muito caro e reduziu bem a grana que tínhamos. Eu mesmo fiquei zerado. O câmbio aqui é muito louco, e pagando no cartão vai custar tudo o dobro por causa dessa aberração.

Dia 29 – 12 de Dezembro, Segunda Feira

Puerto Iguazú/Argentina – Mamborê, Paraná/BR

Hotel Avenida

A imigração pra voltar da Argentina foi fácil, difícil foi aguentar o sol na fila.

Seguimos pra Foz do Iguaçu. O Breno queria passar num mecânico especializado em Harley pra apertar o pedal de marchas, que estava preso há alguns dias com uma fominha de cabelo. No caminho a moto começou a super aquecer também, mas depois normalizou.

Chegamos lá e a oficina estava fechada pro almoço. Fomos fazer o mesmo. 

O Breno conseguiu ligar pro dono da oficina, que concordou em vê-lo mais cedo. Não tinha muito o que fazer, parece que as estrias do eixo de pedal estão gastas. Deu só mais um aperto e ficou pra trocar em BH.

Passamos a tarde toda fugindo de uma nuvem de chuva, que por umas duas ocasiões, quase nós pegou.

A tarde passou arrastando com todo mundo cansado e a base de café e Redbull. 

Decidimos pernoitar em Mamborê. Que é até arrumadinha, com ruas largas, fachadas arrumadas e pintadas.

Dos dois hotéis da cidade, o mais barato estava lotado. O outro, três vezes mais caro, tinha vaga, mas num quarto tipo pensão e sem ar condicionado. Como a noite está bem mais fresca, em torno dos 25 graus, deve ser tranquilo.

Saímos pra comer no Dico’s Bar, que estava lotado com as famílias da cidade. Não botamos fé na porção de isca de tilápia acompanhada de outra de costelinha com mandioca. Estavam as duas muito boas e bem servidas.

Dia 30 

Mamborê/PR – Ourinhos/SP

Ouro Hotel 

Acordei meio doído da cama. Acho que todo mundo acordou mal dormido do hotel em Mamborê.

Completei novamente o nível do óleo da Virago,que continua baixando muito. Não está fumando, mas tem, pelo menos, três bons vazamentos nas juntas na frente do cilindro frontal, no retentor de válvula pelo lado esquerdo no cilindro de trás e, possivelmente, no retentor do trambulador.

Dia de estrada com muito trânsito e brincando de gato e rato com a chuva. Hora fugindo dela, hora ela fugindo da gente.

Paramos no fim de tarde em um posto em frente a cidade pra admirar a chuva caindo pesado sobre Ourinhos no horizonte logo em frente.

O chaveiro que fez a instalação das portas no hotel foi consistente no trabalho, nenhuma delas funciona direito.

Tivemos que andar um pouco pra achar um bar pra resenha do dia. Comércio todo aberto até mais tarde e muitas pastelarias, mas bar mesmo que é bom, foi bem mais complicado.

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