Anitta e a identidade cultural brasileira
by Ale Filizzola
Since my master’s project, From Local to Global, I’ve been consciously trying to figure out what would constitute ‘a genuine Brazilian identity’. The question is proven tricky to be sorted. Brazil is a country with mixed cultures and influences from all over the world. However, when I see initiatives like the last release from the singer Anitta, Girl From Rio, I get more optimist that this question will be answered one day.
Desde o meu projeto de mestrado, From Local to Global, eu venho fazendo um esforço consciente em compreender o que constituiria uma ‘genuína identidade cultural brasileira’. Essa procura se provou mais difícil do que parece, já que o Brasil é um país formado de uma mistura de influências e culturas sem fim. No entanto, quando eu vejo iniciativas como o novo lançamento da cantora Anitta, Girl From Rio, eu fico mais otimista de que esta questão será respondida algum dia.
As a Brazilian myself, I’ve witnessed Anitta’s career kickoff. Back in the day, it appeared to be just another pre-factored highly profitable shooting star. She could’ve been just another skimmed blockbuster perpetuating a well known marketing recipe. Nevertheless, she paved her way in a solid career and is nurturing a genuine identity concept.

Sendo brasileiro eu mesmo, testemunhei o começo de carreira da Anitta. Confesso que na época me pareceu apenas mais uma daquelas receitas pré-fabricadas, e altamente lucrativas, de sucesso instantâneo. Ela poderia muito bem ter sido apenas mais uma daquelas cantoras de temporada que estouram baseadas numa cartilha de marketing vazio, e bem conhecido de todos. Apesar disso, Anitta pavimentou o seu caminho em uma sólida carreira fundamentada num genuíno conceito de identidade e posicionamento de mercado.
I was already living in London for a while when, a few years ago, I was taken by the resounding success of “Vai Malandra” among an international audience. There were other international Brazilian hits, for sure, but nothing compared to the quality and refinement achieved by Anitta in her field. The cultural display in and from Brasil is commonly blurred by external influences, and this, added to the weight of a colonial past with a driven mentality to please a snobbish white perspective over a less affluent diversity. From my point of view, Anitta established a new benchmark when it comes to portraying and selling modern Brazilian “way of life”, which goes a way beyond Zé Carioca, Carmen Miranda, Sapucaí’s Carnaval and Bossa Nova, for an instance.
O tempo passou e eu já estava morando em Londres quando fui tomado de surpresa pelo estrondoso sucesso internacional de “Vai Malandra”. Todo mundo por aqui conhecia, cantava e dançava aquele “Tutudum, Ãh, ãh”. É claro que tiveram outros sucessos do Brasil por aqui, mas nada comparado com a qualidade e refinamento alcançados pela Anitta no campo dela. A divulgação cultural do Brasil geralmente é distorcida por influências externas, e isso, somada a um olhar branco e esnobe sobre a diversidade da galera menos endinheirada e ao peso de um passado colonial. Do meu ponto de vista, Anitta estabeleceu uma nova referência no que se trata de representar, e vender, o moderno estilo de vida do brasileiro, que vai muito além do Zé Carioca, Carmen Miranda, Carnaval na Sapucaí e Bossa Nova, só pra citar alguns exemplos.
‘Vai Malandra’ was a ravishing, liberating and inclusive view of Rio de Janeiro. Out of the pretentiousness of a posh language based on influences from Europe and North America, Anitta was kicking the front door and presenting to the world a carefully produced and lavish imagery of the local desire in fruition. No gangsta, no rapper, no “Spanish latin”, but “Laje ostentação” funk Carioca style, and no excuses for being proud of it.
Vai Malandra foi uma arrebatadora, libertadora e inclusiva mostra do Rio. Longe da pretenção de uma linguagem rebuscada e receada de eurocentrismos e norte americanismos, Anitta estava metendo o pé na porta da frente ao apresentar ao mundo um cuidadosamente produzido imagético da libido nacional em plena fruição. Nada de ‘gansta’, rappers ou lationoamérica espanhola, mas sim, funk carioca e laje ostentação na veia e sem medo de ser feliz.

Anitta was translating Brazilian culture with fresh references rooted in modern icons of the mass. It is easy to imagine a stiff-upper-lip purist, specially in Brazil, trying to disqualify it as something vulgar or lacking sophistication. Far away from that, ‘Vai Malandra’ was blooming another branch of the Brazilian identity wired to global tendencies. Anitta became clearly a cultural product wrapped to be sold worldwide and she stood her ground in a global market disputed by giants.
Anitta estava traduzindo a cultura brasileira com referências frescas e direto da sua fonte, o povo. É fácil imaginar algum purista enclausurado, especialmente no Brasil, tentando desqualificá-la como vulgar e sem qualquer sofisticação. Mas bem pelo contrário, Vai Malandra estava florescendo uma nova vertente da identidade brasileira antenada com uma linguagem do mundo. Anitta se tornou claramente um produto cultural embalado para o mundo, e ela conquistou o seu espaço num mercado disputado por gigantes.
Years later, Girl From Rio, resumes it all by comparing a wealthy romantic and stylised image of Brazil with how things really are for the majority or the population. The moods, the bodies and behaviour, she showed it all and I most certainly loved it! Anitta has mastered the game rules and is resonating to the world songs and visual references imbued in cultural identity out of the beaten track, and it happens to be a high-valuable consumption product. Claiming ownership of who you are, including all the mix that makes you who you are, and being proud of your values is a decisive action for a cultural identity to be developed.
Mais alguns anos se passaram e Girl From Rio resume tudo isso muito bem ao comparar uma estilizada visão romântica e abastada do Brasil com como as coisas realmente são para a maioria da população. Os ânimos, os corpos e o comportamentos, ela mostrou de tudo e eu simplesmente adorei! Anitta dominou as regras do jogo e está reverberando para o mundo músicas e referências visuais imbuídas em identidade cultural da melhor qualidade. E acontece que isso é um produto altamente valorizado no mercado de consumo. Reivindicar a propriedade de quem você é, incluindo tudo que vem junto nesse pacote, e tendo orgulho disso e dos seus valores é um passo decisivo para o desenvolvimento da identidade.

So, is Anitta’s Rio the true and only Brazilian identity? – No, I am not saying that. However, It is, for sure, a huge step towards building a bigger picture by the proud representation of some of its pixels. Anitta, and all of her team (because no one does this work alone) are more than simple dots, they are bright shining stars in this cultural map.
Mas então, é o Rio da Anitta a verdadeira e única identidade brasileira? – Não, eu não estou falando isso. Entretanto, ele é, com certeza, em grande passo para a construção de um retrato mais rico e orgulhoso de quem somos. E a Anitta e toda a sua equipe (porque ninguém faz um trabalho desse sozinho) são mais do que simples pontos nesse mapa, eles são estrelas brilhantes nesse cosmos.
