Colômbia – Relato de viagem: Bogotá / Cartagena

Das impressões iniciais, confesso que a Colômbia surpreendeu bastante. Gostei muito de conhecer Bogotá e Cartagena. Desta vez, o destino é que fez a escolha. Com muitas milhas por vencer, a ideia era gastá-las em algum destino da América do Sul e a Colômbia foi a melhor promoção que apareceu para o período em que poderia viajar em junho de 2012. Bogotá dá a impressão de uma pedra bruta ainda por se lapidar, com muito a oferecer ao turismo e a cordialidade do seu povo impressiona. Cartagena já segue no sentido oposto, é o principal destino turístico do país. Tem o seu centro histórico muito preservado e com atrações sofisticadas, embora já seja superexplorada turisticamente e igualmente explore o turista.

álbum bogotá
álbum de fotos Cartagena

Frequentemente lembrado apenas pelas ações do narcotráfico e das FARC, que ficaram gravadas na memória de tantos anos de notícias recebidas dos jornais, o país vem passando por profundas transformações ao longo da última década e o turismo internacional começa, aos poucos, a mostrar a sua cara. Bogotá, Medellín e Cartagena de índias parecem pacificadas e diz-se ser seguro, inclusive, viajar pelas estradas entre elas. Porém, na Amazônia Colombiana e alguns outros redutos, ainda parece haver governos paralelos comandados ora por milícias, ora pelas FARC. Os noticiários televisivos colombianos confirmam isto em sua pauta tomada pelos atentados e tragédias diárias.

O BRASIL SOB A ÓTICA COLOMBIANA

De acordo com o serviço turístico de lá, os colombianos são tidos como o 3º povo mais feliz do mundo, ficando atrás apenas de Cuba e Porto Rico (queria saber como fica o Butão com o seu Índice de Felicidade Interna Bruta da População). Curioso que no mesmo instante que isso foi dito, alguns argentinos e chilenos protestaram na hora, gerando certo burburinho, questionando como o Brasil fica nisso. Eu, como brasileiro ali presente, limitei-me a achar graça. Ah, de acordo com o mesmo guia, não sabia exatamente a posição, mas assegurou que o Brasil nem se classificou entre os primeiros da lista. Sempre divertido constatar a visão que o resto do mundo tem da gente.

Michel Teló foi ouvido uma ou duas vezes pelas ruas.  Vendedores e outros chatos de plantão cantavam trechos pretendendo agradar. Teve um, que quando contestado que a música não agradava, se saiu com a seguinte pérola: “o mundo todo gosta, só vocês brasileiros que não gostam”. É de se imaginar que não seja a primeira vez que ele tenta a estratégia com um brasileiro e se deu igualmente mal… Mas com o resto do mundo deve funcionar.

Aconteceu de um ambulante, camelô de chapéus na entrada do forte, que interpelou emocionado, declarando-se fã do Roberto Carlos. Dizia ter CDs, DVDs, fitas e vinis. Perguntou se “Bebeto” ainda era vivo e cantou emocionado um trecho de “Como é Grande o Meu Amor por Você” em espanhol. Inacreditavelmente não tentou nos vender nada.

O gerente vesgo de uma loja de reproduções arqueológicas certificadas em frente ao Museu do Ouro, que falava mais do que o homem da cobra e não se calava por nem um segundo, também era meio que encantado com o Brasil. Tinha até supostos artesanatos indígenas manauaras pra vender e estava planejando uma viagem pra mergulhar no Rio Negro. Viajaria de barco partindo de Letícia, na tríplice fronteira, passando por Tefé e indo até Manaus.

Mas a pergunta óbvia que todos faziam ao saber que éramos brasileiros era se vínhamos do Rio de Janeiro e como era lá.

CÂMBIO E OUTROS ÍNDICES

A moeda nacional é o Peso Colombiano. Câmbio de R$1 pra COP$ 860 ou de US$1 pra COP$ 1.840, nas melhores cotações encontradas e em quase todas as casas de câmbio que vi pareciam aceitar Reais sem qualquer problema. As notas não são bem diferenciadas, especialmente entre as de 1.000 e 10.000, e as cifras aos milhares fazem um pouco de confusão a princípio. As coisas, na média, não são muito caras e pode-se dizer que os gastos ficam pareados com os equivalentes aqui do Brasil. É só eliminar 3 zeros pra efeito prático de conversão com uns 20% de margem.

O espanhol deles geralmente é bem falado e fácil de compreender, embora um ou outro dispare tão rápido que até entre eles mesmos deve ser difícil de entender. Inglês, poucos arranham alguma coisa e chega a dar dó de pensar nos turistas americanos que chegam lá sem saber nada além do próprio umbigo.

A gasolina é caríssima, quase 9.000 pesos o litro e o diesel pouco abaixo na faixa dos oito mil. O gás natural, que parece mover a frota urbana, fica em torno dos 2 mil. Segundo nos disseram, esses valores são assim devido a pesadas taxas de financiamento da “guerra” contra o narcotráfico. Mesmo assim as corridas de taxi são relativamente baratas (COP$ 21.000 entre o aeroporto e a Plaza Del Chorro de Quevedo no centro histórico). O sistema de ônibus do tipo BRT, o Transmilenio, que acabou virando ‘Transmilleno’ na boca do povo – ‘translotado’, numa tradução improvisada atendeu muito bem.

Agora, bacana mesmo são os ônibus de linha comuns. Cada um deles tem modelo e pintura personalizados e exclusivos! Acho que eles param em qualquer lugar sem ponto definido e não têm dois carros iguais em toda a Colômbia.

BOGOTÁ

Bogotá está muito arrumada e com policiamento ostensivo. Tem-se a impressão de lá ser muito mais seguro do que aqui pela nossa terra. Grande destaque pra simpatia e boa recepção do pessoal da capital! As feiras, as comidas, o centro histórico e os museus – salvas ao Museu do Ouro e ao do Botero! – se mostraram da melhor qualidade.

A capital colombiana está lá no alto da América do Sul, próximo à ponta de cima da cordilheira dos Andes. Chegando de avião é possível ver bem a imensidão plana da floresta Amazônica que é abruptamente interrompida por um paredão que eleva um imenso degrau na paisagem. Dalí em diante, predomina um planalto que sobe mais um degrau chegando perto de Bogotá, que estou convencido de ser um pedacinho de Minas Gerais desgarrado nos Andes. Até a capital lembra Belo Horizonte cercada pela Serra do Curral, não fosse pela altitude de 2.640m do nível do mar – quase a mesma de Machu Picchu no Peru – contra os modestos 850m de BH. Apesar disso o famigerado soroche incomodou pouco, poderia até passar despercebido sob a alcunha de simples mal estar de viagem, por alguém desavisado.

O clima bogotano, segundo dizem, é constante o ano inteiro, não havendo diferenças muito significativas entre as estações. O mais curioso é que num único dia, em compensação, têm-se todas as estações do ano. A temperatura oscila entre os 5 e os 20º. De manhã está frio e com neblina, podendo haver algumas pancadas de chuva. Na medida em que o dia vai passando, a temperatura sobe e o sol queima pra valer. Todo protetor solar é pouco entre as 10 e as 14h. A tarde fica agradável e a temperatura começa a baixar rapidamente ao anoitecer e por assim vai.  Todo turista distraído fica com insolação e queimaduras de frio brabas.

Não sei qual a razão, mas o frio de lá pareceu mais fácil de enfrentar que o daqui. A sensação térmica era sempre a de uma temperatura maior do que a que realmente estava. Geralmente uma blusa e uma boina foram suficientes pra suportar as temperaturas mais baixas. E olha que com 15º aqui em Minas geralmente eu já estou sofrendo que é um trem de doido, sô! Talvez seja pelo ar mais seco e rarefeito de lá, não sei dizer.

Talvez, assim como eu, você fique chocado ao saber que a capital está rondando os seus 9 milhões de habitantes. Curioso é que nos trajetos que fizemos por lá, isso não transparece. Bem pelo contrário, a impressão que se tem é de uma cidade do interior mais desenvolvida. E olha que o caminho do aeroporto até o centro histórico da Candelária é bem longe, o que permite observar bastante coisa à primeira vista.

Os endereços na capital são uma confusão só. O sistema de nomenclatura mudou, pelo menos, 3 vezes nos últimos tempos. O que prevalece atualmente é um sistema por números mais ou menos da seguinte maneira: as Carreras são paralelas à serra e as Calles são perpendiculares à estas. Sendo que pode haver números fracionados de ruas diagonais que não obedecem exatamente à malha de início e fim no traçado do quadriculado. Pra complicar um pouco mais, na sinalização dos cruzamentos e casas ainda constam as plaquetas das nomenclaturas antigas junto das novas.

MONSERRATE

Uma noção melhor da cidade só foi possível ter lá de cima de Monserrate, um mosteiro que fica aboletado bem no alto do penhasco da cordilheira que cerca a cidade. Apesar da quase unanimidade nativa ter recomendado ir lá pela manhã por causa do frio e dos ventos, fomos ao final da tarde pra ver o por do sol e o inicio da noite. E, pela impressão que tive, estou convencido de que este é sem dúvida o melhor horário. A vista é incrível e a mudança de luz oferece diferentes espetáculos. Vendo a cidade acesa, ali do alto, é que você entende por onde fica espalhada toda aquela gente.

A subida é feita de teleférico ou de funicular (COP$15.400 ida e volta). Aos mais atletas e animados, também há a opção de ir a pé. Aos que quiserem se delongar e aproveitar mais o tempo lá em cima, existe uma feirinha de quinquilharias, uma lanchonete e alguns bons e refinados restaurantes com vista panorâmica. Ao por do sol teve roda de cantoria evangélica e tudo mais. Pra ajudar a espantar o frio, experimentei uma bebida típica chamada Canelazo. Muito parecida com o nosso Quentão, só que com um “cheiro” do destilado de frutas típico com notas de anis, chamado Aguardiente. Caí na bobagem de pedir pra Dona do balcão me servir mais uma dose pura pra turbinar aquilo, que mal tava fazendo cosquinha, e ela me xingou todo, pois lá não era lugar pra bebedeira…  Curioso foram uns suecos que estavam abobalhados de ver uma cidade, que por si só, tem muito mais gente que o país deles inteiro. Pra variar, perguntaram do Rio.

HOSPEDAGEM

Ficar pela área da Candelária, que é o centro histórico, me pareceu a melhor vizinhança para se hospedar. De lá é possível percorrer as principais atrações e museus a pé, além de muitas opções de bares e restaurantes. Fizemos as reservas pelo Booking.com e acabamos nos hospedando no Bed and Breakfast Chorro de Quevedo – R$ 120 a diária de casal em suíte com café da manhã – bem ao lado da Plaza Del Chorro de Quevedo. Pessoal muito atencioso e boas instalações numa reforma modernosa com mesclas de demolição a partir de um antigo sobrado. O único ponto franco foi o banheiro no quarto, feito meio que de improviso com uma divisória de compensado e uma cortina como porta.

CHORRO DE QUEVEDO, CERVEJAS E CHICHA

A praça Del Chorro foi o marco zero da cidade e hoje é ponto de encontro de jovens nas noites bogotanas. Há sempre pocket shows a céu aberto e a galera prestigia atenta aos mambembes da vez, formado plateias significativas. Vertendo de lá tem a Calle Del Embudo, uma ruela estreita repleta de botecos servindo como especialidade a famosa Chicha. Uma espécie de cerveja artesanal feita a partir de milho mastigado e fermentado com açúcar e saliva. Experimentei três diferentes, sempre de um novo estabelecimento a cada noite ao retornar para o hotel. Todas distintas entre si, variando no grau de fermentação e concentração da bebida. Têm um cheiro forte de fermento e mesclas de rapadura, com uma textura grossa do milho triturado e aparentemente não peneirado. Não posso dizer que seja gostoso, mas também não foi de todo ruim. O segredo é tomar e esquecer, abstrair, a forma de preparo daquilo. É claro que tive o cuidado de ver se mais alguém tomava daquele veneno ou se era graça pra turista. Afirmo que, além de mim, tinha sempre muitos adolescestes travando aquela mesma aventura. Ainda sobre o goró, ao que parece, lá é proibido beber em público. Cheguei a ver um funcionário de bar repreendendo um grupo de menores na rua e, sempre que alguém levava uma garrafa, ela estava ocultada num saquinho de papel.

Falando em cerveja, lá eles têm a disposição diversas marcas nacionais, sendo a maioria razoavelmente boas. Das mais comuns, a melhor foi a Club Colombia Roja, uma espécie de Ale muito boa e fácil de encontrar, na falta desta, fica a Club Colombia comum mesmo. As piorzinhas foram a Aquila, uma pilsen aguada numa garrafinha de 200ml e a Poker. Mas tem também algumas marcas mais elaboradas e caras, como a Apóstol e a BBC, dentre outras.

CAFÉ

Mesmo o café colombiano tendo fama como um dos melhores do mundo, não senti assim grande diferença do nosso. Eles têm uma rede de cafés, feita a cópia e semelhança da Starbucks, chamada Juan Valdez que defende a bandeira cafeeira nacional. De lá, o que eu gostei mais foram os cafés gelados. Ainda sobre café, é comum na maioria dos estabelecimentos aquele arrojado hábito de, ao servirem com creme, fazerem desenhos com a espuma na superfície da xícara. Vê-se bastante daqueles grãos de café torrados e revestidos com chocolate também.

MUSEUS E PLAZA BOLÍVAR

Do posto de informações turísticas junto à Praça Bolívar, sai às 10 da manhã uma excursão gratuita a pé pelos arredores do centro histórico. Leva pouco mais de 2h e a guia vai contando curiosidades da cidade, seus personagens, sua história e dos principais prédios. Vale muito a pena. Mas fique atento, a única eminência de furto aconteceu durante esta excursão. Enquanto todos se acercavam prestando atenção ao falatório da guia bem no meio da Plaza Bolívar, algumas pessoas se misturaram ao grupo e sorrateiramente foram abrindo o zíper de uma mochila para subtrair o conteúdo. Felizmente um membro do grupo percebeu o movimento e deu o grito. Na confusão estabelecida, as meliantes se fizeram de desentendidas e desapareceram na praça.

O Museu do Ouro é visita obrigatória, assim como o complexo interligado dos museus do Botero, da Moeda e da pinacoteca. Vá preparado com a sua câmera, pois eles permitem fotos sem flash! E se você trabalha com design de joias, imagino que vai pirar com os adereços que os antigos colombianos faziam e suas sofisticadas técnicas de fundição. Tem uma galeria de artesanias e traquitanas pra turistas na rua ao lado do museu. Da janela do segundo piso dá pra ver bem de frente. Lá, numa das saídas laterais, tem uma representação da Hombres de Barro, que faz réplicas cerâmicas muito bem feitas de algumas das peças arqueológicas pré-hispânicas vistas no museu. O preço é bom e são as peças de melhor qualidade que encontramos.

Dizem que o mercado de flores e frutas também é espetacular, mas tem que chegar lá, no máximo, até as cinco da matina pra valer a pena o espetáculo de circulação e comercialização das flores, que é a atração principal. Lamento dizer que faltou coragem para essa empreitada, assim como faltou tempo pra poder dedicar um dia inteiro a ir visitar a Catedral de Sal em Zipaquirá. Tem um restaurante famoso que fica na periferia da cidade chamado André Carne de Res. Tão pouco fomos nesse devido à distância, mas depois fiquei sabendo que eles tem uma segunda sede lá na Zona Rosa, mas aí já era tarde e ficou pra uma próxima vez.

COMIDAS

Não faça grandes planos de alimentação e restaurantes. Se permita entrar pelas portinhas que te parecerem interessantes no centro histórico, experimente o que se vende nelas e também pelas barraquinhas de rua. Uma boa dica é prestar atenção ao que o povo local está comendo e onde eles estão circulando. Pra se ter uma ideia, as recomendações dos guias de viagem que arriscamos geralmente não se comprovaram realmente boas. Exemplo disso foi o restaurante La Sociedad. Ambiente muito agradável, sofisticado e comida das mais sem graça e caras. O Lonely Planet, em especial, tem se mostrado com muitas dicas furadas de hospedagem e alimentação ultimamente.

Alguns dos lugares para se comer que conhecemos e que podemos recomendar sem medo são:

  • La Puerta Falsa – Experimente o Tamale, espécie de galinhada mineira feita com arroz, milho, batata e alguns legumes, só que envolta e cozida em folha de bananeira como se fosse uma pamonha. Há também sobremesas como doce de leite com queijo ou geleia de amora. Mais típico, e ainda assim “mineiro”, até difícil. Fica nas imediações da calle 11, próximo ao cruzamento com a Carrera 6;
  • La Bodega de Abasto – Cozinha artesanal. Experimente o Frango Assado (pollo de campo) ou Roastbeef. O melhor frango assado que me lembro de já ter comido na vida, e provavelmente o mais caro também (COP$ 50.000). De sobremesa experimente o Crumble de Frutos Rojos. Restaurante artesanal sofisticado, ótima opção para o almoço no domingo quando for visitar a feira de Usáquen. Fica na calle 120A #3A-5, Usáquen;
  • San Felipe – Comida típica pro povo típico.  Experimente a Badeja ‘Páisa(quase o Rochedão lá do Bolão no Santa Tereza) ou o Ajiaco, uma sopa de frango com arroz, milho, alcaparras, abacate e creme de leite. O forte lá é o café da manhã, que pra nós poderia muito bem ser um almoço. Funciona das 8 às 14h e fica nas imediações da carrera 2, esquina com calle 12;
  • Tienda de Comercio Solidario Quinua Y Amaranto – Empanadas e comidinhas típicas. Fica nas imediações da calle 11, entre Carrera 2 e 3.
  • Bicicleta de lanches – no final de tarde, fica bem em frente ao museu do ouro, na rua entre ele e a feira de antiguidades. Um casal assa arepas com variados recheios numa churrasqueira improvisada no melhor estilo “comida de rua”. Foi disparado a melhor arepa de toda a viagem. Preço variando entre COP$1.000 e 3.000, conforme o recheio.

USAQUÉN E ZONA ROSA

Dos lugares, além dos já mencionados como os museus, a Candelária e Monserrate, tem a feira de Usaquén e a Zona Rosa, que são uma área mais nobre da cidade. Lá está repleto de shoppings, bons restaurantes, bares mais sofisticados e lojas das melhores grifes internacionais. Se você está a procura de sofisticação, é bem provável que este seja o seu lugar em Bogotá! Como no centro histórico, bater perna por aqui pode ser o melhor meio de conhecer o que a área tem de melhor. Tome a Carrera 11 como eixo de referência e siga investigando por suas adjacências entre as Calles 80 e 93. Coisa de primeiro mundo.

MERCADO DE PULGAS DE USAQUÉN

Para visitar a feira de pulgas de Usaquén, reserve um domingo de dia para isto. Comece por caminhar de manhã sem pressa ao longo da Calle 116 até o shopping Hacienda Santa Bárbara. Neste dia da semana, uma das pistas da avenida fica interditada para o lazer da população e inúmeras barraquinhas de comidas são montadas em seu canteiro central. A feira de pulgas propriamente dita começa na rua paralela da esquerda ao shopping, depois dobra na esquina de cima e continua perpendicular por vários quarteirões. Lembre-se de explorar também as ruas paralelas de cima da feira. Na primeira estão vários restaurantes de comida internacional, inclusive brasileira, e na de cima desta há uma entrada de estacionamento que leva a uma nova feira no topo da colina. Por ali vá passeando, vendo os brechós, os artesanatos e tiragonstando pelo caminho. Lá no fim da rua, o restaurante La Bodega de Abasto, que descobrimos por acaso, é uma excelente opção para o almoço ou para uma cerveja fugindo do calor do meio do dia. Na feira lá do estacionamento, deixe pra tomar um café no fim da tarde.

CARTAGENA

A cidade histórica amuralhada de Cartagena das Índias é linda e muito bem preservada, embora as praias deixem muito a desejar. Se você já conheceu Iriri no Espírito Santo, já pode se gabar de conhecer praias muito melhores que as caribenhas deles lá.

Em Cartagena tudo é bem mais caro que a média bogotana, mas não chega a ser proibitivo. Desanima o fato de ser muito turística e a legião de ambulantes é mais numerosa e desagradável que a do Pelourinho. A média do atendimento é ruim e o tempo inteiro tem alguém querendo te dar uma rasteira. Arapucas para turistas, desavisados ou não.

O clima é quente e úmido. É mais ou menos como aquele mormaço de Belém ou Manaus, só que ainda muito mais quente, em torno dos 36°. O sol praquelas banda racha com vontade e logo na chegada, ter um chapéu, é questão de sobrevivência, seguido do pensamento de que todo o protetor solar que você trouxe na bagagem será pouco.

Como é que funciona o sistema de nomeação e numeração das ruas? – E eu respondo: é um caos. Em cada quarteirão as ruas mudam de nome e, apesar delas aparentemente terem numeração dupla de rua e habitação, como em Bogotá, eles parecem não utilizá-la muito. Com o tempo você acaba se acostumando, ou não.

HOSPEDAGEM

Ficamos no hotel Torre Del Reloj, bem em frente à praça da torre do relógio e sobre a passarela das doceiras. Fica bem na cara do gol e, apesar do movimento intenso e de algum barulho em decorrência disso, me pareceram muito boas, tanto a localização quanto as acomodações. Suíte com balcão de frente pra praça, ar condicionado e bom café da manhã (R$170,00 o casal). Ficou faltando apenas um frigobar no quarto pra uma cerveja gelada ou algo assim. O pessoal de lá teve um ótimo atendimento, pisaram feio na bola apenas ao recomendarem a infeliz da porqueira da malfadada da desgraçada da Travelfusion pra fazer a merda do passeio de lancha pelas ilhas.

O QUE FAZER

Um dos melhores programas me pareceu ser caminhar a pé pela cidade, ou alugar uma bicicleta, curtindo as ruas pitorescas e descobrindo opções de restaurantes e recantos mais interessantes.

Cartagena era um antigo entreposto de comércio espanhol por onde escoavam todas as transações entre colônia e império naquela época. Várias foram as tentativas de invasão da cidade e, daí, as fortificações ainda hoje lá existentes. A beira mar segue uma muralha que envolve todo o centro histórico que atualmente é ocupado por restaurantes e hotéis de todos os tipos. Um pouco mais recuado, incrustado no alto de um morro, está um imenso forte, o Castelo de San Felipe, o maior já construído pelo império espanhol nas Américas. Além destes dois pontos de referência, seguindo pela praia há uma península urbanizada – os bairros de Bocagrande e Castillogrande – onde se encontram as residências de luxo, os prédios de hotéis, o cassino, e mais opções de restaurantes. Fora isto, os demais bairros parecem ser bem precários e não inspiram qualquer segurança para que o turista se aventure por eles.

As praias da cidade não tem calçadão, tem areia escura e barreiras de pedras amontoadas como quebra-mares dividindo seus trechos. Não espere ver a fina flor colombiana por elas. Curiosamente, a parte legal da orla é de dentro da baía que abriga o porto. Lá estão os melhores prédios, há calçadão acompanhando a orla e é onde a classe alta circula com desenvoltura.

COMIDAS

A gastronomia local é rica em frutos do mar e os preços são bem razoáveis, se comparados com o que temos com o Brasil. As duas grandes iguarias, em minha opinião, foram a Limonada de Côco e o Arroz de Côco. Mas há fartura de ceviches, camarões, mariscos, polvos, lulas, peixes etc.

Por recomendação de um amigo, antes de fazer esta viagem eu assisti aos programas do Anthony Bourdain sobre a comida colombiana. Lá são apresentadas algumas pérolas da gastronomia nacional e há um seguimento dedicado a Cartagena onde ele indica a Cevicheria. Não achei que a recomendação foi lá essas coisas todas, não. Mas valeu assistir ao programa no geral. Mesmo achando o Bourdain um tanto “mala”, meio papo ruim e o atendimento da Cevicheria tosco, tenho que admitir que o cara tem a manha de visitar estes lugares e correr atrás de pratos realmente especiais. Quando tiver o meu próprio programa de viagens e gastronomia, acho que vou querer que seja algo assim como o dele! 😀

A maioria dos guias de viagem recomenda os restaurantes da Plaza de Santo Domingo. Aquilo lá é o afloramento do inferno na terra! Um punhado de restaurantes fastfood metidos a besta, caros e apinhados de garçons empesteados te perseguindo com cardápios e querendo te forçar a vê-los. Um saco.

Os restaurantes mais interessantes ficam pro lado do Parque Fernandez de Madrid e da Plaza de San Diego. Lá, muitos deles possuem mesas nas calçadas e um agradável clima de tranquilidade e sossego, especialmente às noites. Alguns dos restaurantes oferecem menus do dia que costumam ser boas opções muito em conta.

Alguns dos restaurantes que podemos recomendar são:

  • La Cocina de Carmela – selfservice durante o dia e pratos especiais à noite. O dono, Juan Pablo, cartagenero da gema, é uma figuraça. Apaixonado pelo Brasil, chegou a viver fazendo bijuterias como hippe em Pipa por muitos anos. Segundo ele, um dia ainda volta. Calle 2da. de Badillo nº 36-50.
  • Dondé Socorro – comida típica e frutos do mar. Essa Socorro já mudou tanto de ponto e de sócios que na mesma vizinha tem três restaurantes com o nome dela. Mas pra manterem o nome, mesmo ela não estando mais lá, é por que ela deve mesmo ser muito boa, certo? O dela atual é o do meio, não é o bacanudo de frente pro Centro de Convenções, nem o que fica no final da rua. Fica na Calle Larga nº 8B-34 (pelo menos até que ela resolva mudar novamente, aí você procura saber dondé’que’tá a Socorro).
  • Titoté – Comida um pouco mais sofisticada e com ímpetos modernosos, embora o preço esteja na faixa. Fique atento ao menu do dia. Calle Chochera del Gobernador nº 33-34.
  • Cevicheria – mesmo carinha e com atendimento ruinzinho, ainda vale arriscar nos fins de tarde, se você conseguir pegar uma mesa na calçada. Do contrário, o Boudain que me perdoe, mas nada justifica. Calle Stuart nº 7-14.
  • Barraquinha de rua – lembra até uma baiana do acarajé, só que além do abará (sim, ela tem bolinho de feijão!), ela frita ali na hora pastéis, empanadas (que tem um outro nome que me esqueci agora), bolinhos de carne e tem até mesmo uns pedados de queijo frescal fatiado. Fica na Calle 2da. de Badillo, quase esquina com o Parque Fernandez de Madrid.

Para o almoço – se tiver um pouco de disposição de procurar e caminhar para conhecer um pouco mais da cidade – vimos opções de refeições e pratos do dia mais econômicas e aparentemente atrativas pelo bairro de Getsemaní, nos arredores da Calle Larga.

Em meio ao mau atendimento generalizado e as sucessivas tentativas de extorsão ao turista, algumas pessoas se destacaram positivamente e salvaram com honras a reputação cartagenera. Uma delas foi o cara da loja de aluguel de bicicletas do lado de fora da muralha, na Calle Larga, logo depois do Centro de Convenções. Depois de nos entregar uma bicicleta sem freios e a outra toda empenada, ele deu um desconto de ½h no aluguel pelo transtorno e quando fizemoso acerto no fim do dia, depois de quase meio dia de aluguel, ainda fez um desconto no valor da hora e arredondou a fração de hora pra menos. O outro foi o garçom de um bar, também do lado de fora da muralha, que veio atrás de nós na rua, já quase um quarteirão depois, trazendo o chapéu que avia sido esquecido sobre o balcão.

ILHAS

O passeio pra conhecer as ilhas foi um fiasco. Lancha super lotada, tripulação ignorante e abrutalhada, despreparada de todo para o turismo. Assentos que não nos cabiam, refeição de péssima qualidade, estrutura geral muito precária e praias e ilhas que definitivamente não valeram os aborrecimentos, o dia dispensado e o preço pago (COP$ 80mil + 25mil do aluguel das máscaras de mergulho putrefatas). O nosso maior erro foi ter deixado pra fazer esse passeio no último dia, quando vimos, já estávamos embarcados na armadilha e não teve como cancelar o que já havíamos pagado ou mudar de barco. Se tivéssemos pensado melhor na ocasião, teria sido mais acertado literalmente abandonar o barco, assumir o prejuízo, o tempo perdido e ir aproveitar melhor o dia de outra maneira.

O mergulho livre foi, assim por dizer, “legalzinho”, pois a água estava com boa visibilidade, parte significativa dos corais ainda estava vivo e havia alguns peixes para serem observados. Felizmente não me aventurei no mergulho com equipamento autônomo. Imagino que teria sido um fiasco semelhante, porém potencializado pelo valor (COP$250mil) e pelos riscos maiores envolvidos.

Se você pretende fazer esse passeio das ilhas, antes de fechar com qualquer companhia, vá diretamente ao porto e procure se informar sobre as opções e valores para o passeio. Há barcos de transporte público que fazem os principais destinos. Nas palavras de um amigo que esteve lá antes de mim: “das praias, a melhorzinha é a Branca”. Reza a lenda que há ilhas mais distantes e melhores que valem a pena conhecer se for passar uns dias a mais. Não foi desta vez.

Que sirva para a referência de futuros viajantes: a lancha superlotada e sem espaço de acentos suficientes para os passageiros chama-se D. Luisa e a agência (i)responsável que a comercializa chama-se Travelfusion. Corra deles e, se possível, denuncie à polícia.

ARTESANATO

Tanto Cartagena quanto Bogotá foram meio fracas de artesanatos e souvenires mais interessantes. Cartagena ainda um pouco pior e mais cara. Lá tem um centro de artesanato com várias lojas no que antigamente era um aquartelamento militar, chamado Plaza de Las Bóvedas. Digamos que não emocionou.

Nos fins de tarde, muita gente sobe na muralha de frente para o mar e fica apreciando o por do sol. O cenário fica dominado por casais de todas as idades, o que, aliás, parece ser o público predominante de Cartagena: os enamorados em lua de mel.

8 thoughts on “Colômbia – Relato de viagem: Bogotá / Cartagena

  1. Olá Ale, eu e minha esposa vamos visitar Bogotá e Cartagena gosto muito das dicas, se tiver algo mais importante nos avise.

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    1. Oi, Roberval, fico feliz que tenham gostado do roteiro. Acho que o básico que tinha pra comentar sobre a viagem é esse mesmo que já postei.Mas se tiver alguma coisa mais específica em que possa ajudar, é só dizer que respondo no que estiver ao meu alcance. No mais, espero que gostem de lá. Essa foi um viagem que me surpreendeu e achei muito bacana conhecer a Colômbia. Abraço e boa viagem!

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    1. Na verdade até que eu gostei bastante de Bogotá e a cidade me surpreendeu muito positivamente. Agora, Cartagena, mesmo sendo linda nos limites da cidade amurada, me pareceu mesmo uma arapuca pra turista.

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  2. seus relatos divergem muito da maioria dos demais blogs e sites. estou indo pra cartagena. Estou animado. Reputo que seu depoimento foi negativo e imparcial demais. Insuficiente para um site que pretenda dar uma opinião sobre um lugar para outras pessoas.

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    1. Oi, Charles, espero que tenha uma experiência melhor que a minha em Cartagena e tenha uma ótima viagem! A cidade é linda e possui particularidades únicas, embora, na minha opinião, a qualidade geral dos serviços tenha me deixado muito a desejar, ao contrário de Bogotá, sobre a qual teci muitos elogios, conforme já viu no relato que fiz.

      Sobre a parcialidade, acho que você tem razão. O que faço ao escrever um destes roteiros de viagem é compartilhar as impressões particulares que tive, tanto boas quanto ruins. Não tenho a pretenção de criar um roteiro completo, ou mesmo imparcial, nestas postagens, mas, talvez, contribuir com alguma informação que possa se somar a outros inúmeros roteiros que tem por aí e ajudá-lo a planejar a sua viagem, atentando ao que encontrei de bom e alertando sobre o que poderia ter sido melhor.

      Mas, por favor, ao voltar da sua viagem, se quiser compartilhar aqui a sua experiência, será muito bem vindo!

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