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Resenha feita sobre o original: Diamond, Jared. Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Editora Record. Rio de Janeiro, 2006. 3ª edição. Capítulo 14, p. 501 a 526. Consultado entre agosto e setembro de 2011.
Tomar a decisão correta frente a uma ameaça de extinção parece algo fácil, se não óbvio, mas não é bem assim o que nos conta Jared Diamond, com deliciosa riqueza de exemplos de acontecimentos reais e reflexões, no décimo quarto capítulo do seu livro Colapso. A decisão desastrosa pode, dentre outras razões, ser motivada pela falta de previsão, falta de percepção, mau comportamento racional, valores equivocados, irracionalidade e soluções malsucedidas das sociedades e seus governantes. O problema vai além da incapacidade social de tomar decisões em grupo e está relacionado com o fato de que os indivíduos também tomam decisões erradas para suas vidas apoiados por estas mesmas e danosas razões.
A argumentação do capítulo começa pela perplexa pergunta feita por um aluno: O que estaria passando pela cabeça do lenhador que cortou a última palmeira da Ilha de Páscoa e condenou aquela sociedade insular que dependia das árvores? Surpreendentemente não há uma resposta fácil para esta situação aparentemente estúpida, levando a outro questionamento: com que freqüência pessoas e sociedades tomam decisões desastrosas e com que grau de intenção e consciência das conseqüências de seus atos?
No intento de lançar alguma luz sobre estas questões, o autor agrupa argumentos e exemplos diversos em quatro categorias: um grupo pode não ser capaz de prever um problema antes que ele surja de fato; quando o problema surge, o grupo pode não conseguir identificá-lo; após percebê-lo, pode nem mesmo tentar resolvê-lo; ou pode tentar resolver o problema e não ser bem-sucedido. Destaca ainda que do outro lado da moeda há algo mais encorajador, a tomada de decisão bem sucedida. E conclui com certo otimismo: “Talvez, se compreendermos as razões por que os grupos freqüentemente tomam decisões erradas, possamos usar este conhecimento como guia para tomar decisões acertadas” (p. 503)
Resolução de conflitos, liberdade de debates, memória e entendimento da própria história, coesão social, percepção lúcida e correta da realidade e dos acontecimentos, identificação de mudanças e desapego de valores sem sentido, vivência local, familiaridade com o território e sua cultura, compartilhamento de riscos e benefícios entre todos os extratos sociais, estabelecimento de interesses comuns, políticas públicas participativas e capacidade de ação com a energia e o tempo adequados, dentre outros, são princípios apontados como influenciadores positivos no caminho de indivíduos, organizações e sociedades bem sucedidos. “Talvez o segredo do sucesso ou fracasso de uma sociedade esteja em saber a quais valores fundamentais se apegar, e quais descartar e substituir por novos quando os tempos mudarem.” (p. 518)
“Na verdade, embora as condições ambientais certamente tornem mais difícil a manutenção de sociedades humanas em alguns ambientes do que em outros, isso ainda deixa muito espaço de manobra para que uma sociedade se salve ou se condene através de suas ações.”
“(…) A resposta a esta pergunta depende em parte das idiossincrasias de indivíduos em particular, o que dificulta a previsão. Mas ainda espero que uma melhor compreensão das causas potenciais de fracasso discutidas neste capítulo possa ajudar os planejadores a ficarem atentos a tais causas, e evitá-las.”
“Devemos admirar não apenas os líderes corajosos, como também os povos corajosos (…) que decidiram quais de seus valores fundamentais mereciam ser mantidos e quais não faziam mais sentido.”
(Diamond,2006. Colapso, 3ª Ed.,p. 524 e 526)
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A leitura do capitulo 14 de Colapso – Por Que Algumas Sociedades Tomam Decisões Desastrosas? – mostra-se bastante agradável por seus exemplos e estilo de redação, mas ao mesmo tempo chocante ao expor a nossa própria cegueira emocional, racional e prática para lidar com nossos desafios e decisões de maneira adequada. Recomendo a leitura a todos os interessados na questão do desenvolvimento sustentável, seja para o meio ambiente ou para suas próprias vidas.
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